São Paulo: Mar de gente!
No meu mar!
Entrei no trem, maravilhas de Luz
não era para naufragar, a agitação desse mar é assim.
Cheguei em casa e comprei o ingresso da Festa de São João.
festas encantadoras, me lambuzo de pé de "moleque", como é bom.
Entreguei um pacote de feijão, um de farinha e um kilo de açúcar
e mesmo assim a prenda não ajudou na mandinga.
Enfezei, subi descalça e mergulhei no mar!
Piuiiiiiii! Estação Guaianazes!
Tô prestes a desmaiar
Um mulatinho fogoso que come comigo na tigela,
de sapato vermelho
me bolina na cestaria de idéias.
Minha gata é a mesma da Pagú
É safada e corriqueira...
Trepa na trave do galinheiro e pede angú
Seu glamour é o rabo: agarra feito serpente
mandinga de idéias no meu mar, sede de gente
Encontro camaradas com os milhões de palavras do nosso vocabulário...
eu mesma quero atrapalhar, e admiro quem se deixa embasbacar.
Mas admiro o parrudo que sobe o morro e pinta a cara de café
o cara predestinado, residente de um espaço especial,
conversa com os poetas, com os donos de apitos, apertadores de buzinas
os gestores da ordem "natural".
Canta, bebe e dança com as pretinhas
mas só consente quando abre sua janela e observa a música objetiva.
Toda e qualquer explicação premeditada do estranho
sou a primeira a indagar!
Termos desconhecidos que precisam ser C O N H E C I D O S
não se tem daquela telefonada direta ao detentor do vocabulário
- Que qué isso? Que profissão ou produto pós-moderno é isso?
Não, não cabe.
Cabe é ficar assim, não querendo demonstrar ignorância
na presença do instruído senhorzinho, calar-se, mas dai e pra si,
sair para a lavoura dos livros que ensinam perseverança
Desalinhada, sonolenta, empenhada a ponto de resolver...
já no morro, apanhar flores no céu das estórias das crianças,
e ver a cidade nascer
Mesmo desconhecendo o trânsito, os apitos e as lambretas
colocar-se no caminho para chegar às estrelas...
Aprendi isso aqui em meu mar,
E isso é pra não naufragar.
Matilda Serpente
São Paulo, 17 de junho de 2009
(Época de congresso da UNE)
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